Aventura Perigosa
Por ANL
Aquela tarde cinzenta de julho poderia ter sido como qualquer outra, se não fosse uma vontade maluca de sair de casa. As férias já estavam chegando ao final e eu não havia feito nada. Escrever mensagens aos amigos, jogar no celular, assaltar a geladeira, brincar com o cachorro já não me divertiam mais. Eu precisava fazer alguma coisa para animar o final das minhas férias. Mas o que eu poderia fazer?
Meus pais trabalhavam com pesquisas para uma Universidade Europeia. Viajavam tanto que aprendi a viver longe deles. Quando era menor, desejava que me levassem nas viagens. Achava incrível olhar as fotos de lugares exóticos, gostava de ouvir as histórias que contavam - verdadeiras expedições terrestres. Embora não participassem muito da minha rotina, sabiam de tudo o que acontecia comigo, informados por uma madrinha que me arrumaram logo que nasci. Quando cresci, percebi que as pesquisas e viagens dos meus pais deixaram um vazio profundo dentro de mim. O tempo foi passando, as fotos aos poucos perderam a graça. O que antes parecia aventura de heróis, agora são fotos, apenas registros de viagem. Mas, voltando àquela tarde cinzenta de julho...
Tomei uma decisão que marcaria a minha vida e a dos meus amigos do sétimo ano.
Troquei algumas mensagens com a galera do fundão do sétimo ano D, amigos do futsal e malucos por jogos virtuais. Em pouco tempo, estávamos com um plano traçado. Sem dinheiro e, claro, sem permissão, marcamos um encontro no pátio do Colégio, perto do ginásio de esportes. Nem pude calcular o tempo gasto nessa fuga, porque o que aconteceu depois foi muito intenso, só lembro de que tomei um ônibus, desci no ponto errado, caminhei dois quarteirões, criei uma história para o porteiro e mergulhei numa aventura daquelas que se lê debaixo dos lençóis, em dias de chuva.
O colégio estava deserto. Meus amigos estavam eufóricos diante da possibilidade de sermos os únicos habitantes daquele lugar. O clima chuvoso dava a esse lugar uma sensação deliciosa de mistério e aventura. De ímpeto, atiramos nossas camisas longe, saltamos na piscina e brincamos sem parar. A alegria era tanta que não vimos a noite se preparar para descer. E ali, sem qualquer preocupação, ficamos entregues àquela sensação deliciosa de liberdade. Sai por um estante da água e fui procurar alguma fruta para comer. Caminhei poucos passos e percebi que algo reluzia na areia encharcada pela chuva. Sem hesitar, tomei o objeto nas mãos e vi que se tratava de um pen-drive.
A aparência daquele dispositivo me deu uma vontade enorme de ver o que ali estava arquivado.
Chamei os caras, convenci-os de que havia algo de extraordinário naquele objeto. Fomos a casa de um amigo que morava nas proximidades do colégio. Explicamos a nossa aventura, ele nos levou até o escritório do seu pai, em busca de um computador. A necessidade de desvendar o conteúdo era extraordinária...
Não estávamos errados. Ao abrir um dos arquivos, nossos olhos ficaram paralisados. Estávamos diante de um enigma: Arquivos, fotos e vídeos exibiam um povo escravizado. Crianças e idosos soterrados agonizavam. Tinham rostos desfigurados, roupas desgastadas, a expressão de pavor nos olhos daqueles miseráveis nos fazia sentir dores no estomago. Não era possível ver árvores, animais, apenas pessoas estiradas ao relento, como se tivessem rastejado, tentando fugir. Em cada arquivo aberto, o medo crescia. Resolvemos abrir outros arquivos, as surpresas se multiplicavam diante dos nossos olhos.
Entre tantas revelações, a maior de todas veio em direção a minha cabeça como uma bomba: os nomes dos meus pais estampavam aqueles arquivos e embaixo havia uma frase: UM MUNDO DIFERENTE NÃO PODE SER ESCRITO POR PESSOAS INDIFERENTES. O que fazer diante daquele mistério?
Resolvi ir ao banheiro. Sentado no chão, chorei muito. Senti medo de perder meus pais, senti uma vontade enorme de abraçá-los e dizer que eu os amava imensamente.
Por minutos fiquei ali em silêncio. Ouvi pancadas na porta do banheiro: eram os meus amigos, chamando para a realidade. Levantei assustado, corri em direção ao computador, e lá estava escrito:
A humanidade tem um papel importante no cuidado e proteção do seu lar, o planeta Terra, e na mostra de solidariedade com os membros mais pobres e vulneráveis da sociedade, que são quem mais sofrem com os impactos do clima.
Algo me incomodava naquela declaração. O que eu poderia fazer para mudar, para salvar aquela gente. O que um garoto como eu, como meus colegas do fundão da sala deveríamos fazer diante de algo tão grande e assustador?
Eu e meus amigos ficamos destruídos diante daquelas imagens. Nossos corpos não obedeciam aos comandos. Sentíamos fome, mas nos sentíamos envergonhados diante do desperdício e das besteiras que fazemos. Sem respostas, tomamos uma decisão que mudaria para sempre as nossas vidas.
Meus pais trabalhavam com pesquisas para uma Universidade Europeia. Viajavam tanto que aprendi a viver longe deles. Quando era menor, desejava que me levassem nas viagens. Achava incrível olhar as fotos de lugares exóticos, gostava de ouvir as histórias que contavam - verdadeiras expedições terrestres. Embora não participassem muito da minha rotina, sabiam de tudo o que acontecia comigo, informados por uma madrinha que me arrumaram logo que nasci. Quando cresci, percebi que as pesquisas e viagens dos meus pais deixaram um vazio profundo dentro de mim. O tempo foi passando, as fotos aos poucos perderam a graça. O que antes parecia aventura de heróis, agora são fotos, apenas registros de viagem. Mas, voltando àquela tarde cinzenta de julho...
Tomei uma decisão que marcaria a minha vida e a dos meus amigos do sétimo ano.
Troquei algumas mensagens com a galera do fundão do sétimo ano D, amigos do futsal e malucos por jogos virtuais. Em pouco tempo, estávamos com um plano traçado. Sem dinheiro e, claro, sem permissão, marcamos um encontro no pátio do Colégio, perto do ginásio de esportes. Nem pude calcular o tempo gasto nessa fuga, porque o que aconteceu depois foi muito intenso, só lembro de que tomei um ônibus, desci no ponto errado, caminhei dois quarteirões, criei uma história para o porteiro e mergulhei numa aventura daquelas que se lê debaixo dos lençóis, em dias de chuva.
O colégio estava deserto. Meus amigos estavam eufóricos diante da possibilidade de sermos os únicos habitantes daquele lugar. O clima chuvoso dava a esse lugar uma sensação deliciosa de mistério e aventura. De ímpeto, atiramos nossas camisas longe, saltamos na piscina e brincamos sem parar. A alegria era tanta que não vimos a noite se preparar para descer. E ali, sem qualquer preocupação, ficamos entregues àquela sensação deliciosa de liberdade. Sai por um estante da água e fui procurar alguma fruta para comer. Caminhei poucos passos e percebi que algo reluzia na areia encharcada pela chuva. Sem hesitar, tomei o objeto nas mãos e vi que se tratava de um pen-drive.
A aparência daquele dispositivo me deu uma vontade enorme de ver o que ali estava arquivado.
Chamei os caras, convenci-os de que havia algo de extraordinário naquele objeto. Fomos a casa de um amigo que morava nas proximidades do colégio. Explicamos a nossa aventura, ele nos levou até o escritório do seu pai, em busca de um computador. A necessidade de desvendar o conteúdo era extraordinária...
Não estávamos errados. Ao abrir um dos arquivos, nossos olhos ficaram paralisados. Estávamos diante de um enigma: Arquivos, fotos e vídeos exibiam um povo escravizado. Crianças e idosos soterrados agonizavam. Tinham rostos desfigurados, roupas desgastadas, a expressão de pavor nos olhos daqueles miseráveis nos fazia sentir dores no estomago. Não era possível ver árvores, animais, apenas pessoas estiradas ao relento, como se tivessem rastejado, tentando fugir. Em cada arquivo aberto, o medo crescia. Resolvemos abrir outros arquivos, as surpresas se multiplicavam diante dos nossos olhos.
Entre tantas revelações, a maior de todas veio em direção a minha cabeça como uma bomba: os nomes dos meus pais estampavam aqueles arquivos e embaixo havia uma frase: UM MUNDO DIFERENTE NÃO PODE SER ESCRITO POR PESSOAS INDIFERENTES. O que fazer diante daquele mistério?
Resolvi ir ao banheiro. Sentado no chão, chorei muito. Senti medo de perder meus pais, senti uma vontade enorme de abraçá-los e dizer que eu os amava imensamente.
Por minutos fiquei ali em silêncio. Ouvi pancadas na porta do banheiro: eram os meus amigos, chamando para a realidade. Levantei assustado, corri em direção ao computador, e lá estava escrito:
A humanidade tem um papel importante no cuidado e proteção do seu lar, o planeta Terra, e na mostra de solidariedade com os membros mais pobres e vulneráveis da sociedade, que são quem mais sofrem com os impactos do clima.
Algo me incomodava naquela declaração. O que eu poderia fazer para mudar, para salvar aquela gente. O que um garoto como eu, como meus colegas do fundão da sala deveríamos fazer diante de algo tão grande e assustador?
Eu e meus amigos ficamos destruídos diante daquelas imagens. Nossos corpos não obedeciam aos comandos. Sentíamos fome, mas nos sentíamos envergonhados diante do desperdício e das besteiras que fazemos. Sem respostas, tomamos uma decisão que mudaria para sempre as nossas vidas.